quarta-feira, 26 de maio de 2010

Direito ao aborto em caso de estupro está ameaçado



Projeto de Lei dispõe sobre a proteção do nascituro e retira o direito da mulher, hoje garantido por lei, de abortar em caso de estupro

O artigo 128 do Código Penal Brasileiro permite a prática do aborto realizada por médicos em dois casos: se não há outro meio de salvar a vida da gestante (aborto terapêutico), ou se a gravidez resulta de estupro e há consentimento da gestante (aborto sentimental). Direito esse garantido desde 1940, quando entrou em vigência o Código Penal. No entanto, esse artigo pode ser revogado, ainda que não expressamente, se aprovado o Projeto de Lei nº 478/07, proposto pelos deputados Luiz Bassuma (PT-BA, atualmente no PV) e Miguel Martini (PHS-MG), que dispõe sobre a proteção do nascituro. As organizações de defesa dos direitos da mulher colocam que se trata de um retrocesso revogar um direito reconhecido à mulher desde a primeira metade do século XX.
O Projeto de Lei entende que naciturno é o ser humano concebido, mas ainda não nascido e dispõe sobre sua proteção integral desde a concepção. Dessa forma, conforme o art. 13 do PL 478/07, a gestante que for vítima de violência sexual não poderá interromper a gravidez. Junto com os demais dispositivos da proposta normativa, o art. 13 revoga tacitamente o art. 128 do Código Penal, que dispõe sobre o aborto legal. Isso significa que o PL, sem expressar isso no corpo do texto, retira e invalida a existência e eficácia do dispositivo penal que permite o aborto terapêutico e o aborto sentimental. Deve-se pontuar que a revogação tácita é vedada na legislação brasileira, de forma que o Projeto de Lei que a realizar está violando a Lei Complementar nº 95, de 1998, e o Decreto nº 4.176, de 2002, que estabelecem normas e diretrizes para a elaboração, a redação, a alteração, a consolidação e o encaminhamento ao Presidente da República de projetos de atos normativos de competência dos órgãos do Poder Executivo Federal. Logo, o PL nº 478, de 2007, é ilegal.
O art. 13 traz ainda que o agressor será responsável por pagar pensão alimentícia até que a criança complete 18 anos, e caso não seja identificado, a obrigação recai sobre o Estado, o que seria um absurdo, a menos que se pense na descriminalização do crime de estupro, visto que, uma vez preso, não haveria como o genitor, mesmo identificado, pagar pensão alimentícia; ou que se idealize a retomada da antiga legislação criminal, em que se previa a extinção da punição do infrator de tal violência sexual, caso a vítima se casasse com ele (redação anterior do inciso VII do art. 107 do Código Penal, revogado pela Lei nº 11.106, de 2005).
Em decorrência do art. 13, instituições e associações voltadas à defesa dos direitos da mulher apelidaram o PL de "Bolsa Estupro", e afirmam que ele poderá ocasionar um aumento no número de processos com acusações falsas; além do aumento dos crimes de calúnia e consequente sobrecarga da máquina do Judiciário, acrescentando-se, ainda, o excessivo ônus ao Estado.
O PL está tramitando na Câmara dos Deputados e foi votado, nesta quarta-feira, dia 19 de maio, pela Comissão de Seguridade Social e Família (CSSF). Somente nessa comissão, ele já foi retirado de pauta quatro vezes. Na última reunião ordinária da CSSF, o deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS) apresentou requerimento de retirada de pauta por 9 sessões, o que foi rejeitado pela maioria dos presentes. Dessa forma, provavelmente, o PL será submetido à aprovação da Comissão na próxima reunião da CSSF.
Se aprovado o Projeto de Lei, fica proibida também qualquer "incitação" ou "apologia ao aborto", termos que sugerem o cerceamento do direito de livre expressão e manifestação sobre a temática.O debate sobre o aborto no Brasil se intensificou muito nos últimos anos, devido principalmente à mobilização das organizações de mulheres e feministas, que serve de estímulo para o lançamento de pesquisas acadêmicas e para a discussão na mídia. A temática do aborto também tem sido objeto de discussão no âmbito dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. As organizações envolvidas no debate defendem a inclusão do aborto enquanto uma questão de saúde pública, enfatizando também a autonomia das mulheres e seu direito de escolha. O ponto crucial do debate é a criminalização do aborto, que leva várias mulheres à morte todos os anos, por realizarem o procedimento em clínicas clandestinas ou pela ingestão de medicamentos sem nenhuma instrução médica.
O cálculo da magnitude do aborto no Brasil tem como maior desafio a dificuldade de acesso a dados fidedignos, além da omissão das mulheres que passaram pelo procedimento, por medo de serem estigmatizadas socialmente e até mesmo condenadas judicialmente. Relatório lançado pelo Ministério da Saúde, em 2009, intitulado "20 anos de pesquisas sobre aborto no Brasil", aponta a magnitude do aborto ilegal no país a partir da década de 1990, quando o aborto induzido se manteve entre a terceira e a quarta causas de mortalidade materna em várias capitais brasileiras. A estimativa oficial da razão de morte materna é de 76 a cada 100 mil habitantes. De acordo com estudo recente do Ipas, o número estimado de abortos inseguros, em 1992, era equivalente a 43% dos nascimentos vivos. Esta proporção cai para 31% em 1996. Apesar de ter diminuído na década de 1990, em 2005, ainda correspondia a cerca de 30% dos nascimentos.
Em 2005, foi entregue na Câmara dos Deputados anteprojeto de lei que previa a descriminalização e legalização do aborto no Brasil. O anteprojeto foi elaborado por uma Comissão Tripartite, instituída pela Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República (SPM/PR) e integrada por representantes dos poderes Executivo e Legislativo e da Sociedade Civil, os quais propuseram uma profunda revisão na legislação brasileira sobre aborto. Porém, não foi dada continuidade ao resultado final da Comissão, ou seja, ao anteprojeto de lei que continha a proposta de revisão da legislação punitiva do aborto, em razão da mudança de legislatura. Nunca foi aprovada nenhuma lei que descriminaliza o aborto, e o tema continua sendo discutido nas esferas tanto privadas quanto públicas.
Cumpre, novamente, ressaltar que o Projeto de Lei nº 478, de 2007, uma vez aprovado, apresentará um grande retrocesso social e implicará a violação dos direitos fundamentais das mulheres, pois, em sua atual redação, não permite qualquer prática do aborto, inclusive quando a gestante esteja sob risco de morte e quando a gravidez seja resultado de um dos mais cruéis dos crimes, o estupro. Com isso, estar-se-á insistindo no erro que leva milhares de mulheres à morte no Brasil: tratar o aborto como questão de política criminal, ao invés de entender e enfrentá-lo enquanto problema de saúde pública.

Fonte: SPM
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terça-feira, 25 de maio de 2010

III Encontro de Mulheres UFRGS


Esboço de Programação:

Sexta-feira – 18.06
MESA 1 (18h30): "Mulheres: Identidades Distintas, Opressões Somadas"
Palestrantes:
Movimento LGBT
Movimento Negro
Movimento Indígena
Via Campesina/Movimento de Mulheres Camponesas

Sábado – 19.06
MESA 2 (9h30): "Movimento de Mulheres, Políticas Públicas e Emancipação Feminina"
Palestrantes:
Movimento Social
Especialista em Políticas Públicas
Coletivo de Mulheres UFRGS

ALMOÇO (12h as 13h30)

OFICINA ARTISTICA (13h15 as 13h45)

GRUPOS DE DISCUSSAO E TRABALHO (14h às 17h)
1. "Prazer: Sexo e Subjetividade"
2. “Economia alternativa: o trabalho pelas mãos femininas”
3. “Cultura, Arte e Libertação
4. “Saúde da Mulher: O que o Machismo tem a ver com isso?"
5. “Homens e feminismo”

ENCONTRO DE GRUPOS FEMINISTAS e Coffee Break (17h às 18h)

OFICINA CORPORAL (17h15)

PLENÁRIA FINAL (19h às 21h)


Está aí um pouquinho do que será o nosso III Encontro de Mulheres UFRGS, que se realizará nos dias 18 e 19 de junho de 2010, na FCE UFRGS.
Em breve mais detalhes da programação e o início das incrições.
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Produtora da música ‘Um Tapinha Não Dói’ é multada.

25/03 – 20:56 – Agência Estado

A Justiça Federal de Porto Alegre condenou a empresa Furação 2000 Produções Artísticas ao pagamento de multa de R$ 500 mil pelo lançamento da música Um Tapinha Não Dói , por entender que a letra banaliza a violência e estimula a sociedade a inferiorizar a mulher. A decisão foi tomada pelo juiz federal substituto Adriano Vitalino dos Santos, da 7ª Vara Federal, e pode ser contestada em instâncias superiores.
A ação foi movida há sete anos pelo Ministério Público Federal (MPF) e pela organização não-governamental (ONG) Themis Assessoria Jurídica e Estudos de Gênero, que alegaram que a letra justifica a violência masculina a partir do comportamento sexual da mulher. Sustentaram ainda que a liberdade de expressão não é direito absoluto e tem limitações reconhecidas pela Constituição em face do princípio da dignidade. O juiz entendeu que houve dano moral difuso à mulher e estabeleceu a multa, que deverá ser revertida ao Fundo Federal de Defesa dos Direitos.”


http://alemdogenero.wordpress.com/2008/04/01/produtora-da-musica-um-tapinha-nao-doi-e-multada/


" Um tapa dói sim, e muito!!"

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Ser mulher no século XX e XXI:

O legado de Susan Sontag e Grabrielle (Coco) Chanel
-26 de maio das 18 às 20h30



O mito do amor romântico que leva ao casamento e à felicidade é uma invenção do fim do século XVIII. Nas últimas décadas, a expectativa quanto ao casamento como o caminho para a realização pessoal cresceu muito. A decepção e a insatisfação cresceram junto.

A expectativa quanto à felicidade que o amor deve proporcionar complicou o casamento e outras relações possíveis, pois exige do casal um esforço inédito para que as coisas dêem certo. Essa nova realidade é uma enorme fonte de stress e depressão.

O grupo de discussão propõe-se analisar as relações entre sexualidade e política e colocar em questão que talvez o problema não seja do sujeito, mas da incapacidade do casamento em cumprir as promessas de felicidade.

Por que o (a) solteiro (a), o (a) separado (a) e sujeitos que optam por outras formas de vivências fora do modelo padrão do casamento são tratados como perdedores? Por que é difícil falar de felicidade se você vai contra a norma social, que é casar-se e constituir um lar tradicional.

No meio literário, na cultura, mulheres como Susan Sontag, Coco Channel e, muitas outras merecem destaque, e devem ser lembradas por serem mulheres de muita expressão no cenário mundial devido à reflexão que seus textos, produções e opções de vida incitam em nós leitores (as) acerca do papel da mulher na sociedade. Reivindicaram direitos de visibilidade e atuação concreta no dia-a-dia de uma sociedade e, antes de tudo, lutaram para se encontrar e encontrar seu lugar no mundo sem sentir vergonha ou constrangimentos, situaram o lugar dos seus desejos.

A partir da reflexão sobre as trajetórias de vida de Susan Sontag e Coco Chanel, faremos o debate sobre o mito do amor romântico e o consumo da utopia romântica. Ou seja, como se conecta o amor com a cultura do capitalismo tardio buscando compreender as formas e os mecanismos mediante os quais se produz a intersecção das emoções românticas com a cultura, economia e organização social do capitalismo avançado.

Uma reflexão a partir de:
El Consumo de La Utopía Romántica: El Amor y Las Contradiciones Culturales del Capitalismo. Illouz, Eva. Buenos Aires, Katz, 2009.
Diários Susan Sontag 1947-1963. Rieff David. Companhia das Letras,2009.
Against Love – A Polemic (Contra o Amor – Uma Polêmica). Kipnis, Laura.
O Evangelho de Coco Chanel: Lições de Vida da Mulher mais Elegante do Mundo. Karbo,Karen.
Coco Chanel. A Biography. Madsen, Axel. Bloomsbury UK.


Coordenação: Márcia Esteves de Calazans, Psicóloga Social. Mestre em Psicologia Social e Institucional pela UFRGS. Doutora em Sociologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Dedica-se aos estudos com enfase na Psicologia Social , Sociologia do Trabalho e das Organizações e Sociologia da Cultura.


Informações e inscrições pelos telefones: 3062-7282/ 9261-8315
Visite o sítio :
www.marciacalazans.com.br

quinta-feira, 20 de maio de 2010

III Encontro de Mulheres UFRGS

Já estamos organizando o III Encontro de Mulheres UFRGS, que se realizará nos dias 18 e 19 de junho, no auditório da Faculdae de Economia UFRGS.


Aguardem mais informações na semana que vem!!


"Liberdade, ou é para tod@s ou é tudo por nada!"

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Ladyfest 2010, com Team Dresch no Brasil!!

LADYFEST BRASIL 2010

10 ANOS DE FEMINISMO JOVEM RADICAL

A primeira edição do festival cultural feminista Ladyfest aconteceu a exatos 10 anos atrás em Olympia, nos EUA.

Em 2004, a primeira edição brasileira tomou vários espaços da cidade de São Paulo para abrir caminho pra mais 4 edições que vieram nos anos seguintes. Em cada edição o público foi crescendo, chegando sempre na casa dos milhares, e a cobertura da midia grande e alternativa também se expandiu.

Celebrando uma cena de jovens mulheres em busca de igualdade usando meios faça-você-mesma e carimbando na história dos movimentos sociais de esquerda no Brasil uma produção cultural revolucionária sem precedentes, a edição brasileira do festival esse ano comemora não só a criação de um movimento contra cultural, mas a manutenção de um ideal, seja através de atitudes, questionamentos ou resistência gritada ao topo dos pulmões, em letras de música, fanzines e arte de rua.

O Ladyfest Brasil 2010 celebra não só a renovação política que movimentos jovens feministas como o riot grrrl trouxeram para a cena punk brasileira, mas todas as mulheres que, após longo ou breve contato com o ativismo feminista cultural, levaram esse ideal de forma séria e eterna pra suas vidas, mantendo seu discurso feminista atual e intacto, sem abrir concessões.

O Ladyfest Brasil 2010 é organizado por Anelise Csapo, Elisa Gargiulo, , Marcela Mattos, Adriessa Oliveira, Bruna Mantese, Bruna Provazi e Elaine Campos.

E esse ano nós da organização temos o orgulho e o prazer de anunciar a presença de uma das maiores inspirações musicais e políticas para a cena punk feminista.
Direto de Portland, EUA, Team Dresch.
O festival ocorre entre os dias 15 e 23 de maio nas cidades de São Paulo e Santos.




Mais informações:
http://ladyfestbrasil2010.blogspot.com/

terça-feira, 4 de maio de 2010

Ocupação Casa do Estudante UFRGS pelas Mulheres 29/04/1980



SOBRE O MOVIMENTO PELA ENTRADA FEMININA NA CEU DOS ANOS 80
Rualdo Menegat

O movimento pela entrada das mulheres na Casa do Estudante Universitário da UFRGS gerou uma das maiores discussões sobre costumes na história de Porto Alegre no início dos anos 80. Por meio de uma reivindicação simples à visita de mulheres numa casa de estudantes, esse movimento mostrou toda a perversidade cotidiana que reinava na universidade e na sociedade nos anos de chumbo: os colegas dedos-duro convivendo sob o mesmo teto, as associações estudantis pelegas, a hipocrisia e o descaso das autoridades universitárias, o autoritarismo fora de controle, o preconceito contra a mulher...

O movimento, contudo, conseguiu ir muito além da reivindicação: de forma criativa, contagiou a todos e a todas e aprofundou a discussão sobre repressão sexual na juventude, modo de vida e liberdade. Desafiando o poder das baionetas, tornou-se um paradigma no Brasil e, em pouco tempo, foi derrubada qualquer restrição à entrada feminima ou masculina nas casas de estudantes brasileiras. Mas, fundamentalmente, mostrou que era possível derrotar o terror e o medo com a união de tod@s. Que era possível sonhar e realizar o sonho em plena ditadura militar.

Foi um acontecimento todo ele bonito. Exemplar. Vigoroso. Revolucionário. Que sinalizou como a vida poderia ser diferente quando não há autoritarismo e repressão. Quando respeitamos o outro sem preconceito e com toda a humanidade que nos é possível.